dulado – Jano Saúde

Censo 2022 revela 2,4 milhões de pessoas com autismo no Brasil: estamos preparados para essa realidade?

Em maio de 2025, o IBGE divulgou pela primeira vez os dados do Censo Demográfico com informações específicas sobre pessoas diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). O levantamento revelou que 2,4 milhões de brasileiros têm diagnóstico de autismo, o que representa 1,2% da população — proporção semelhante à observada nos Estados Unidos, segundo o CDC 2025.

A maior prevalência foi identificada entre crianças de 5 a 9 anos, com 2,6%, reforçando a importância do diagnóstico precoce e da intervenção especializada. Esses dados representam um marco na visibilidade da comunidade autista e impõem um novo desafio: como o Brasil pode garantir os direitos e atendimentos adequados para essa população?

Apesar dos avanços legislativos e do crescente debate público sobre o autismo, o Brasil ainda enfrenta sérios obstáculos para atender essa demanda:

  • Falta de serviços especializados em muitas cidades, especialmente nas regiões Norte e Nordeste;

  • Longas filas de espera no SUS para avaliação diagnóstica e início de terapias;

  • Déficit na formação de profissionais da saúde, educação e assistência social para trabalhar com TEA;

  • Inclusão escolar precária, com poucos recursos e formação inadequada para os professores;

  • Sobrecarga das famílias, que muitas vezes precisam buscar atendimento privado com alto custo.

Essa realidade reforça que o número apresentado pelo Censo não é apenas uma estatística — ele carrega consigo a urgência de transformar políticas públicas, qualificar profissionais e criar ambientes mais preparados para acolher e desenvolver crianças, adolescentes e adultos autistas.

Diante desse cenário, algumas estratégias práticas e viáveis podem representar avanços importantes:

  • Investir em diagnóstico e intervenção precoce: a criação de linhas de cuidado específicas para o TEA no SUS, com protocolos claros, pode facilitar o acesso a serviços de triagem, diagnóstico e acompanhamento terapêutico desde a primeira infância.

  • Fortalecer a inclusão escolar com qualidade: a formação continuada de professores, a presença de mediadores capacitados e o acesso a recursos adaptados são fundamentais para garantir não apenas matrícula, mas permanência e aprendizado.

  • Apoiar e capacitar as famílias: uma das soluções mais eficazes e sustentáveis está no treinamento de pais e cuidadores. Essa abordagem, já consolidada em países como os EUA, permite que os responsáveis aprendam estratégias para estimular a comunicação, reduzir comportamentos desafiadores e maximizar o desenvolvimento no dia a dia.

  • Capacitar profissionais com base em evidências: é essencial ampliar a formação técnica e ética de profissionais da saúde, educação e assistência social, com foco em práticas baseadas em evidências científicas, como análise do comportamento aplicada (ABA). O seguimento de diretrizes clínicas atualizadas, como as de associações e organizações científicas, garante mais qualidade, segurança e resultados positivos para as pessoas com TEA.

  • Integrar saúde, educação e assistência: as políticas para o autismo não podem estar isoladas. É necessário articular esforços entre secretarias e serviços, garantindo continuidade e coerência nos atendimentos, desde a escola até a clínica.

O compromisso da Jano Saúde

Na Jano Saúde, reconhecemos o impacto desses dados e o tamanho do desafio, mas também acreditamos na transformação por meio do conhecimento, da escuta e da ação estruturada. Atuamos com um modelo interdisciplinar, baseado em ciência, escuta ativa às famílias e formação contínua da nossa equipe. Também investimos em programas de treinamento parental e grupos de habilidades sociais, porque entendemos que a mudança acontece dentro e fora das sessões.

O novo Censo não é só um retrato do presente, ele é um chamado para o futuro. Um futuro mais inclusivo, acessível e acolhedor.


Checklist de Habilidades para a Vida Adulta

Quando pensamos na autonomia de pessoas neurodivergentes, especialmente aquelas com diagnóstico de TEA, é essencial começar cedo. Segundo Gerhardt & Bahry (2024), existem habilidades que devem ser ensinadas ainda na infância e adolescência para garantir dignidade, independência e qualidade de vida na fase adulta.

Abaixo, você encontra uma lista prática com essas habilidades. A proposta é simples: use esse conteúdo como um exercício de checagem. Observe se cada uma dessas competências está sendo ensinada ao seu filho, ou se já faz parte do repertório dele.

✅ Habilidades essenciais para promover autonomia:

  • Toalete

  • Vestir-se

  • Alimentar-se

  • Higiene básica (banho, escovação de dentes)

  • Cuidados com a casa

  • Aprendizagem em grupo

  • Tolerância à visitas de saúde (médicos, exames, dentistas)

  • Autogerenciamento

  • Resolução de problemas

  • Identificar perigos

  • Comunicar o que precisa

  • Advogar por si mesmo

  • Participar de situações sociais e coletivas

Quanto mais cedo essas habilidades forem introduzidas na rotina da criança, maiores serão as chances de ela conquistar independência


Transição para a Vida Adulta no TEA

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento que acompanha o indivíduo ao longo de toda a vida.

A transição para a vida adulta é uma fase crítica, que exige planejamento individualizado e suporte contínuo. E quanto mais cedo essa preparação começar, melhores as oportunidades de inclusão.

Desde a infância, é importante focar no ensino de habilidades como:

  • Autonomia nas atividades do dia a dia

  • Comunicação funcional

  • Habilidades sociais e interpessoais

Essas competências são essenciais para que, ao chegar à vida adulta, a pessoa com TEA esteja mais preparada para:

  • Ingressar no mercado de trabalho

  • Gerenciar sua rotina e finanças

  • Construir vínculos sociais

  • Continuar recebendo os cuidados em saúde e educação de que precisa

📌 Um plano de transição bem estruturado deve considerar as habilidades, interesses e necessidades da pessoa, promovendo qualidade de vida, inclusão e participação ativa na sociedade.


Comportamento Interferente

🧠 O que é Comportamento Interferente?

O comportamento interferente é qualquer ação que prejudique:

  • A qualidade de vida da criança ou de quem convive com ela;

  • A segurança física do próprio indivíduo ou de outras pessoas;

  • O desenvolvimento de habilidades, especialmente no processo de aprendizagem e nas interações sociais.

⚠️ Exemplos Comuns

Esses comportamentos costumam ocorrer com alta frequência ou intensidade e incluem:

  • Agressões (autolesão ou contra terceiros);

  • Destruição de objetos;

  • Fugas de tarefas (por exemplo, levantar da cadeira ou sair correndo);

  • Protestos intensos, como:

    • Gritar continuamente;

    • Jogar-se no chão;

    • Chorar inconsolavelmente.

Esses episódios costumam ser difíceis de interromper, gerando grande desgaste físico e emocional para cuidadores e professores.

🧩 O que a ABA propõe?

Na Análise do Comportamento Aplicada (ABA), a intervenção com foco em comportamentos interferentes tem como prioridade:

  • Identificar a função do comportamento — ou seja, o que a criança está tentando comunicar ou evitar com aquela ação;

  • Reduzir o comportamento disfuncional sem punir, mas compreendendo suas causas;

  • Ensinar comportamentos alternativos que sejam mais adequados para a mesma função.

👨‍🏫 O papel do supervisor ABA

O supervisor é responsável por:

  • Conduzir uma análise funcional para entender o que mantém o comportamento (ex: busca por atenção, fuga, reforço sensorial, etc.);

  • Criar e aplicar estratégias individualizadas baseadas nos dados da avaliação;

  • Orientar a equipe terapêutica e os cuidadores para que as mudanças ocorram de forma consistente em diferentes ambientes.

💡 Exemplo prático

Se uma criança rasga o material escolar para escapar de uma tarefa, podemos:

  • Ensinar a criança a pedir uma pausa usando fala, gesto ou comunicação alternativa;

  • Reforçar positivamente esse novo comportamento funcional;

  • Reduzir gradualmente o comportamento interferente, ao mesmo tempo em que aumentamos a autonomia da criança.

🌱 Benefícios da intervenção correta

Ao aplicar estratégias eficazes e respeitosas, conseguimos:

  • Reduzir crises e explosões de comportamento;

  • Melhorar o vínculo com os cuidadores e a convivência familiar;

  • Aumentar a participação da criança em atividades sociais e escolares;

  • Promover o desenvolvimento de habilidades importantes para a vida.

💬 Em resumo

Lidar com comportamentos interferentes exige:

  • Conhecimento técnico;

  • Olhar individualizado;

  • Planejamento com base em dados.

Com a abordagem certa, transformamos desafios em oportunidades reais de desenvolvimento, favorecendo a autonomia, a inclusão e o bem-estar da criança com autismo e de toda a sua rede de apoio.


Seletividade Alimentar no Autismo – O Que é e Como Ajudar?

Você já se preocupou porque seu filho com autismo come sempre as mesmas coisas e recusa outros alimentos? Esse padrão é chamado de seletividade alimentar, e é muito comum em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Estudos recentes mostram que até 80% das crianças com TEA podem apresentar problemas de alimentação, como recusar alimentos ou comer apenas um grupo restrito de alimentos.

👀 O que é seletividade alimentar?
É quando a criança:
✅ Aceita apenas alguns tipos de alimentos (mesma cor, textura ou sabor).
✅ Recusa experimentar alimentos novos, às vezes com reações como cuspir ou chorar.
✅ Come apenas determinados grupos de alimentos, como só carboidratos ou alimentos secos.

🔍 Por que isso acontece?
A recusa alimentar pode ser influenciada por:
🔹 Sensibilidade sensorial — como textura, cor, cheiro ou aparência dos alimentos.
🔹 Questões comportamentais — como rituais de refeição ou busca de atenção.
🔹 Características do autismo — como comportamento repetitivo e resistência a mudanças.

🍽️ Como identificar?
O questionário BAMBI, recentemente traduzido e validado para o português, é uma ferramenta prática para ajudar os profissionais e os pais a entenderem melhor o comportamento alimentar da criança. Ele avalia aspectos como:
✔️ Recusa alimentar — choro, cuspir ou recusar o alimento.
✔️ Variedade limitada de alimentos — aceitação restrita a certos alimentos.
✔️ Características comportamentais durante as refeições — como dificuldade de permanecer à mesa ou comportamentos agressivos.

💡 Por que isso importa?
Uma alimentação restrita pode levar a deficiências nutricionais e impactar a saúde da criança. Além disso, pode trazer desafios para o dia a dia da família e aumentar o estresse dos pais. Com ferramentas como o BAMBI, profissionais podem orientar melhor as famílias e criar intervenções mais eficazes para ampliar a aceitação alimentar das crianças.


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